quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ORAÇÃO DA MAÇANETA

Não há mais bela música que o ruído da maçaneta da porta
quando meu filho volta para casa.
Volta da rua, da vasta noite, da madrugada de estranhas vozes,
e o ruído da maçaneta e o gemer do trinco o bater da porta que novamente se fecha
o  tilintar inconfundível  do molho de chaves
são  um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.
Só assim fecho os olhos; posso afinal dormir e descansar.
Oh! a longa espera, a negra ausência as histórias de acidentes e assaltos
que só a noite como ninguém sabe contar!
Oh! os presságios e os pesadelos, o eco dos passos nas calçadas
a voz dos bêbados na rua,
e o longo apito do guarda, medindo a madrugada, e os cães, uivando a distância
e o grito lancinante da ambulância.
E o coração descompassado a pressentir e o martelar
na arritmia do relógio do meu quarto esquadrinhando a noite e seus mistérios.
Nisso, na sala que se cala,
estala a gargalhada jovem da maçaneta  que canta a festiva cantiga do retorno.
E a sua voz engole a noite imensa com todos os ruídos secundários.
Oh! os címbalos do trinco
e os clarins da porta que se escancara e os guizos das muitas chaves que se abraçam
e os festival dos passos que ganham a escada.
Nem as vozes da orquestra e o tilintar dos copos
e a mansa canção da chuva no telhado podem sequer se comparar
ao som da maçaneta que sorri
quando meu filho volta.
Que  ele retorne sempre são e salvo
marinheiro depois da tempestade a sorrir e a cantar.
E que na porta a maçaneta cante
a festiva canção do seu retorno que  soa para mim
como suave cantiga de ninar.
Só assim meu coração se aquieta
posso afinal dormir e descansar.

Gióia Junior

Respeite os créditos

Nenhum comentário:

Postar um comentário