As perdas do ser humano
Há horas em nossa vida que somos tomados por uma
enorme sensação de inutilidade, de vazio. Questionamos o porquê de nossa
existência e nada parece fazer sentido.
Ao nascer,perdemos o aconchego, a segurança e a proteção do
útero.
Estamos, a partir de então, por nossa conta, sozinhos.
Começamos a vida em perda e nela continuamos.
Paradoxalmente, no momento em que perdemos algo,
outras possibilidades nos surgem.
Ao perdermos o aconchego do útero, ganhamos os
braços do mundo.
Ele nos acolhe, nos encanta e nos assusta, nos eleva e nos destrói.
E continuamos a
perder e seguimos a ganhar
Perdemos primeiro a inocência da infância.A confiança absoluta na mão que segura nossa mão,
a coragem de andar na bicicleta sem rodinhas por que
alguém ao nosso lado nos assegura
que não nos deixará cair...
E ao perdê-la, adquirimos a capacidade de questionar. Por que?
Perguntamos a
todos e de tudo.Abrimos portas para um novo mundo e fechamos janelas, irremediavelmente deixadas para trás.
Estamos crescendo.
Nascer, crescer, adolescer, amadurecer, envelhecer,
morrer...
Vamos perdendo aos poucos alguns direitos e
conquistando outros.
Perdemos o direito de dizer absolutamente tudo que nos passa pela cabeça
sem medo
de causar
melindres.
Receamos dar risadas escandalosamente e evitamos assuntos constrangedores.
Estamos crescidos e nos ensinam que não devemos ser tão sinceros.
Neste ponto, vivemos em grande conflito.
Estamos amadurecendo, todos nos admiram.
Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados.
Perdemos a espontaneidade. Tornamo-nos equilibrados, contidos, ponderados.
Passamos a utilizar o raciocínio, a razão acima de tudo.
E continuamos amadurecendo, ganhamos um carro novo, um companheiro, ganhamos um diploma.
E desgraçadamente perdemos o direito de gargalhar,
de andar descalço, tomar banho de chuva, lamber os dedos e soltar pum sem querer.
Já não pulamos mais no pescoço de quem amamos e
tascamos-lhe
aquele beijo estalado, mas apertamos as mãos de todos.
E assim, vamos
ganhando tempo, enquanto
envelhecemos.
Nos damos conta que perdemos também o brilho no olhar,
esquecemos os nossos sonhos, deixamos de sorrir,
perdemos a esperança.
Não podemos deixar pra fazer algo quando
estivermos morrendo.Compreender que as perdas fazem parte,
mas que apesar delas, o sol continua brilhando e
felizmente chove
de vez em quando, que a primavera sempre chega após o inverno,
que necessita do outono que o antecede.
Que a gente cresça e não envelheça simplesmente.
Que tenhamos dores nas costas e alguém que as massageie.
Que tenhamos
rugas e boas lembranças.
Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia.
Que sejamos racionais, mas lutemos por nossos sonhos.Que tenhamos juízo mas mantenhamos o bom humor e um pouco de ousadia.
E,
principalmente, que não
digamos apenas eu te amo,
mas ajamos de
modo que aqueles a quem
amamos,
sintam-se amados mais do que saibam-se amados.
Afinal, o que é o tempo?
Não é nada em relação a nossa grande missão.
E que missão! Que missão?
Mas a que você acaba de decidir tomar nas mãos!
Autor desconhecido